quinta-feira, 25 de julho de 2013

Católica II

(...) Entro na sala fria, onde os livros e processos nas estantes estão organizados por ordem alfabética. Os cheiros a humidade, pó e utopia a que a FCSH me habituou são agora trocados por um odor a liberdade organizada. Espera-me mais um professor que no olhar tem o cansaço e a compreensão de avô.

Nem os sorrisos dos dois júris me acalmam, a medo vou respondendo pergunta a pergunta. Nada do que havia treinado foi automático. Fingia um à vontade, fingia estar presente, fingia uma confiança que não tinha.

Seis perguntas depois e um voto de boa sorte despeço-me tímida, sem a mínima ideia de como poderá ter corrido. Recomeçam as chamadas, as perguntas incassáveis e a certeza de todos os que não estiveram presentes que foi um sucesso.

Nunca fui uma teórica, por isso as suposições do que poderia ter sido, do que poderia vir a ser não me estavam a convencer. A única coisa que interessa é a resposta, as consequências e a responsabilização que iriam chegar passadas 48horas.

Um dia antes da data enquanto falo com A. (claro que tinha que ser o A.) num repente digito o sítio da Internet onde esperava ver o meu nome. Mais uma surpresa em relação à FCSH, a Católica não só cumpre os prazos como também se antecipa . E assim recebo a notícia: sou oficialmente um potativa futura mestre.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Católica Parte I

Cheguei, forçasamente, à conclusão de que uma licenciatura de 3 anos não serve para nada. Pelo menos no mercado actual de trabalho. Bolonha veio apenas tornar o ensino num negócio rentável e que se recicla todos os anos.

Depois de levar a minha teimosia às últimas consequências, o meu pai conseguiu alertar-me para a vantagem de continuar e de tirar um mestrado. Convencida de que a ideia tinha sido minha comecei a pesquisa de faculdades, cursos e áreas.

Não tive dúvidas de que o o ideal seria candidatar-me à Católica. Um ensino de excelência, renome internacional e uma privada séria que pauta por preencher o mercado de trabalho anualmente. Embora a minha decisão tenha sido tomada em consciência, andei a atrasar o processo de candidatura até ao dia que o calendário assinalava com um grande e castrador X vermelho.

Ganhei coragem, companhia de amigas e de papéis a abanar nas mãos fui à redoma das famílias com 4 nomes próprios e 8 apelidos. Sempre na constante esperança de me pedirem o extracto bancário dos meus pais as simpáticas senhoras de voz anasalada informaram-me que a inscrição estava feita. De agora em diante devia apenas esperar a chamada que ia marcar a entrevista.

Nem 24h de nervos a consumirem os minutos passei. E a entrevista foi marcada, logo no início da semana seguinte iria atravessar o momento, que na minha curta vida, se pode considerar o mais importante.

Na véspera do dia do juízo final os mergulhos na piscina não afogavam as ideias derrotistas. Chegada a Lisboa houve tempo para treinar e ser gozada pelos irmãos. Após uma noite descansada para os terrores nocturnos eis que chega o Desembarque na Cidade Universitária. Eu sou consumida por uma outra pessoa, uma faceta minha com que nunca me tinha cruzado. Uma A. insegura, tímida, nervosa e a quem os risos estridentes e nervosos abafam as palavras.

Numa sala de espera que deixa a desejar para quem se dispõe a pagar 5.000€ de propinas, espero sentada em cima do meu próprio suor. A garganta seca pede um copo de água e reclama os cigarros fumados, 6 pessoas à minha volta olham para o mesmo sítio que eu: o vazio. O vazio onde não cabe mais nada, um vazio com projectos, e ideias que podem ser destruídos ali, no abrir e fechar de olhos. Tiro um livro da mala, mas os olhos vagueiam nas páginas que tremem ao ritmo das minhas mãos. vale-me um Amigo para me distrair com mensagens.

"inserir.nome?". A cara que conhecia das fotografias da internet chama-me. Com um sorriso que esconde o poder que tem. A medo levanto-me, tento limpar a mão discretamente, estendo-lha respondendo à sua. Indica-me a sala e eu entro para o que pode ser o o início do fim da minha "carreira".

ASSUIVRE...