sábado, 12 de outubro de 2013

Responso para me lembrar de dizer adeus

Chegou o dia de exorcizar os demónios! Afinal de contas já passou um mês, já passei por todos os rituais possíveis. Se ainda se usassem gira-discos a agulha do meu estaria partida, se fossem cassetes a fita estava certamente gasta e se fossem CD's já os tinha a todos riscados! A senhora do Quiosque onde compro a tabaco já me trata por tu, os senhores da gelataria já estranham se não vou e todos os meus amigos se asseguram de me controlar volta e meia, para confirmarem que não me afoguei nas minhas próprias lágrimas!

Assim sendo resta-me o compromisso mais difícil de manter. O compromisso que fiz comigo, que fiz com o passado e com o futuro. Atingi o limite. Tudo tem um prazo e nós felizes e "apaixonados" teve um curto prazo. Nunca te irei perdoar por me teres feito quebrar barreiras, por me teres feito partilhar para agora ter que dizer, embrulhada num manto de humilhação,  que não resultou.

Mas, acima de tudo, nunca te irei perdoar por não me explicares porque é que não resultou. Se foi exactamente quando comecei a jogar com o coração que o jogo parou...

Partiste sem me dar esperança mas com a certeza de que eu iria estar no mesmo lugar sentada à tua espera. Nunca me custou tanto dizer que te vou esquecer. E nunca terei dito uma mentira tão grande quando disser que nunca mais te quero ver.

Sei que me vai doer aceitar a realidade mas viver com a ideia do que podia ter sido, ou do que pode vir a ser, é ainda sofrer mais.

Vou viver na apatia dos sentidos, vou tentar parar de sonhar com uma chegada triunfal e um pedido de desculpas com direito a cavalo branco e orquestra sinfónica que me faz arrepender de todas as sentenças que te ditei.

Vão sobrar as imagens das promessas, dos sonhos, de duas pessoas abraçadas com pulsações sincronizadas a ecoar no infinito da noite. Vou rever as memórias, os sorrisos, a cumplicidade. Mas, será apenas no silêncio que vou ver a verdade.

Tenho que te dizer adeus. Não me quero tornar na rapariga que sempre critiquei. Na rapariga, sentada no sofá, que alimenta uma falsa história e que tem que contar mentiras de uma relação perfeita.

Nunca me doeu tanto dizer-te adeus.

Sempre tua,
M.