domingo, 31 de maio de 2015

É uma revolução? Não, são só os primos N juntos


Adoro rituais, fazem-nos sentir com os pés bem assentes na terra, através deles conseguimos dar uma ordem à nossa vida, aproximar-nos dos que gostamos sem sequer nos apercebermos disso. Adoro rituais com amigos, com a família, com os colegas de trabalho. O café e o cigarro com o colega todas as manhãs, o jantar de sábado com os amigos, mas como já disse várias vezes adoro a minha família e os rituais que fomos criando ao longo dos anos. 

Houve uns que herdamos dos bisavós, outros foram incutidos pelos avós e ainda há aqueles que roubamos aos pais. Mas os melhores deles todos, são aqueles que, nós, os primos fomos criando à medida que fomos crescendo. Nesses insere-se o jantar mensal de primos e, por exemplo, o churrasco de abertura do verão.

Foi aquele segundo que aconteceu hoje, mais uma vez não conseguimos estar todos presentes, mais uma vez fizeram falta os que não vieram e por isso não largamos o telemóvel para lhes mandar fotografias de maneira a //fazer-lhes inveja// fazê-los sentirem-se no meio de nós. 

Não sei como são as relações das outras famílias, sempre me custou perceber como há famílias que se dão mal. Mas nunca percebi aqueles primos que estão juntos no Natal e pouco mais, que nem sabem quando um se casa, ou quando o outro vai ser pai. Na minha família não há disso, nós os primos somos só uma espécie de irmãos cujos pais escolherem separar de casas porque a algazarra era demasiada. Nós também nos zangamos, também dizemos coisas uns aos outros que não devemos, mas não me lembro de termos ficado chateados mais do que 24horas. 

(Mesmo que haja no meio de nós um outro que ache estar chateado, todos sabemos que na realidade não está, que na realidade só está a fugir a uma conversa e a ter uma luta de galos com ele próprio - mas isto é uma conversa para outra altura.)

Hoje foi mais um churrasco de primos, hoje foi mais um dia em dissemos "olha eu gosto muito de ti mas se contínuas a fazer sinto-me obrigada a espetar-te com uma cadeira na cara." Porque nós somos assim, uma honestidade crua, uns ao pé dos outros ficamos sem camadas. Somos nós, nus das personalidades que a vida nos foi obrigando a vestir. Crescemos juntos, sabemos como somos em situações limite, aliás em todo o tipo de situações. 

Hoje, como sempre, houve espaço para tudo, gargalhadas, aquilo a que hoje se chama bullying, confissões e trocas de conselhos, muitos conselhos. Pedimos ajuda uns aos outros para tanta coisa, que já não sabemos confiar desta forma em mais ninguém.

O texto começa a dizer que não somos primos, somos melhores amigos. Mas eu não acho que possa ser isso, acho que somos mesmo primos. Ligo muito às palavras e aos sentimentos e memórias que imprimo em cada uma delas. Para mim ser-se primo é único, não tem tradução. É como a "saudade" para os estrangeiros, até podemos explicar mas só um português é que sabe o que é verdadeiramente. 

Sem comentários:

Enviar um comentário