quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Não é o cheiro a tílias molhadas, é o cheiro a outono

Detesto o outono. É o início das chuvas e eu detesto chuva, do vento que eu não aguento, curiosamente só o frio não me incomoda. No outono só gosto do primeiro dia, do cheiro do primeiro dia. Desde que me mudei para Lisboa nunca mais tinha sentido esse cheiro a outono, que não é o cheiro a terra molhada, nem o cheiro as castanhas assadas na rua. 

O cheiro a outono só o sinto em Viseu, só o sentia no primeiro dia de outono. Às vezes podia ser ainda verão, mas ao fim do dia a ir da escola para casa eu sabia que brevemente ia guardar as sabrinas no armário. Pela primeira vez senti este cheiro fora de Viseu, pela primeira vez senti o cheiro duas vezes. 

Passei o mês de setembro é o início de outubro a trabalhar ao fim de semana, não havia saídas com os amigos e saía de casa de manhã e a cidade estava vazia, silenciosa com o peso das ressacas fossem elas do trabalho semanal ou das saídas do fim da semana. No último domingo de trabalho, especial por ser dia de eleições, ao chegar ao jornal senti o cheiro a outono. 

Com gripe e enjoada esqueci-me dos sintomas, o nariz desentupiu-se como por magia e cheirei o outono que estava para chegar, cheirei Viseu, cheirei os meus pais que já não via há um mês, os meus avós, as minhas tias e a minha infância. Percebi, na realidade não percebi apenas confirmei pela centésima vez, que aquele sítio é o sítio onde eu tenho de estar, é a minha segunda casa.