quinta-feira, 24 de março de 2016

Privilégios

Um dia disse "quando for grande quero ser jornalista". No ano a seguir abriu um clube de jornalismo na escola. Foi lá que tive vi o primeiro texto publicado, a primeira amargura ao ver que um "editor" me tinha alterado o final de uma peça. Recortava as reportagens da Única e colava -as num caderno, a seguir contava o que tinha lido pelas minhas palavras às vezes num tom crítico, outras abordando um ângulo que achava ser mais interessante. Depois eu cresci comecei a preferir passar as tardes com os amigos, e a professora encarregue pelo funcionamento do clube reformou-se. Eu continuava a dizer "quando for grande quero ser jornalista".

Habituei-me a ler diariamente peças assinadas por pessoas que eu admirava, a comprar jornais que para mim eram feitos por verdadeiros rockstars. Continuei a crescer, estudei mais para o exame de espanhol a ler a Holla e o El País do que a estudar os verbos pelos livros da escola. Tive 19,4. Começou a chegar a altura de escolher a a faculdade, contrariei todas as vontades da minha família que sabia que ser jornalista era ter uma vida difícil e continuei a dizer "quando crescer quero ser jornalista".

Fui tendo a sorte de conhecer pessoas que faziam do jornalismo vida, que viviam o jornalismo e cada vez dizia com mais força "quando for grande quero ser jornalista". 

Fui para a faculdade, sai. Vi os jornais a despedirem, as publicações a fecharem, jornalistas a morrerem, colegas de universidades a desistir porque não havia trabalho e eu continuei a dizer "quando for grande quero ser jornalista".

Uns meses depois de ter começado o mestrado arranjei um estágio no jornal onde sonhei trabalhar a vida inteira. Desde que cortava as reportagens da Única. Foram cinco meses melhores do que uma criança a viver na Disneylândia, conheci as caras por trás das palavras que eu lia. Os nomes daqueles que para mim eram heróis. Comecei a tratá-los por tu, a chamar-lhes amigos. Continuei sempre a dizer "quero continuar a ser jornalista". 
 Continuo por cá, passados estes anos.
Hoje continuo a querer ser jornalista, continuo a ser jornalista e a dizer "quando for grande quero ser jornalista", quero ser grande como eles e jornalista como sou.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Mudam as moscas

Começar a manhã a ouvir estupidezes, não é muito diferente de todas as outras manhãs. Mas diz que hoje se celebra a democracia, acaba o cavaquismo entra o mediatismo. Tudo muda, de um presidente que dizia de forma orgulhosa que não lia jornais passa-se para um que até foi jornalista. Novos tempos políticos, uma maré de ar fresco de um homem que te lê, ouve música e aprecia arte. A contrariar a ideia de que quem vem das berças para Belém não consegue deixar a tacanhez e o poucochinho. Não foi o meu voto, mas foi do melhor que aconteceu ao país, reconheço. 

Tudo muda, so não muda a estupidez matinal que se faz ouvir no café matinal. Como se costuma dizer por aí os tempos mudam, as pessoas é que não.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Liguem ao Guterres

 “Isto é uma injustiça” seguido de um revirar de olhos terá sido a frase e o gesto mais vezes repetido durante a minha adolescência. O quero dizer com isto? Nada. Só isso mesmo, a constatação de um facto. E nem preciso de revirar olhos se não acharem relevante, mas deviam. 

terça-feira, 1 de março de 2016

Rezas

O que é que representa para ti? Isso é uma cena de filme autêntica, é encantadora e épica. O grande espetáculo está no que se segue, foi um êxito. Um verdadeiro êxito. Um modelo para o que veio a seguir, e ainda mais incrível é que me superei, o meu modelo era um t1 ao pé deste que é um palácio. Não andei a partilhar nada, já na altura quando comecei não pus o nome. É a invenção humana mais difícil de explicar, há juntas científicas a tentar faze-lo todos os dias. E a primeira vez que se faz só repara nos defeitos, não é narcisismo é autocrítica. Confundem-se, muito mesmo. Mas isso é um desafio, às vezes somos o oposto do registo. Tem que fazer sentido, a única aposta é fazer sentido e, esse, às vezes é o nosso maior desafio. Não é uma opção, não é a aposta segura, é diferente. Se virmos assim as coisas pode parecer um tiro no escuro, mas nunca se tem noção à partida. A adrenalina é complica de gerir, mas no final é essa que nos permite continuar. É o segredo, este é o segredo. Tem muita voltagem, é um perigo. Um perigo de alta voltagem que se assume, que se aprende a gerir. Não é coragem, de todo. É o contrário disso mesmo, é prazer. Puro prazer, o tempo que for de prazer. Nem tudo é protesto, mas há sempre um protesto claro inerente. Grita-se de forma intima, e a intensidade às vezes é angustiante, dolorosa e é preciso esticar as cordas vocais a um máximo sobre-humano.