domingo, 15 de maio de 2016

Evoluções

Havia uma altura em que não interessava saber os apelidos uns dos outros, em que o mais importante era o que levava a bola para o intervalo. Havia uma altura em que as nossas profissões não nos definiam, não havia profissões, havia sonhos e brincadeiras. O mais forte não era o que estava na maior empresa, ou o mais empreendedor. O mais forte era o que conseguia saltar a rampa sem fechar os olhos e contar até três. Desemprego era uma palavra dos livros da escola, de uma coisa que havia nas sociedades, só sabíamos estar ocupados. Um tempo livre nunca o era, era uma oportunidade de ocupar o tempo com o que a nossa imaginação mandava. O único horário que tínhamos era chegar a casa antes dos pais e para isso não era preciso relógio nem toque de saída. Custava acordar com o despertador tanto quanto custa agora, mas a seguir ao pequeno almoço tudo era novo, tudo podia acontecer. Dependia dos sonhos que tinham acontecido depois do beijinho da mãe em cada olho fechado. Não os podíamos abrir mais depois do beijinho, sob pena de ele voar e a mãe não voltar para dar um novo. Os sonhos voavam e voavam e hoje ainda sentimos o quentinho dos beijinhos da mãe, do cheiro do creme perto da cara, do pijama lavado e dos lençóis esticados. Hoje já nada é assim, apenas os beijinhos da mãe se mantém tão quentes.

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